quinta-feira, 2 de janeiro de 2014

Mulher supera deficiência na mão e se torna designer de sobrancelhas


'Nunca me vi como uma deficiente', diz Bia Monteiro.
Profissional também trabalha como depiladora há 10 anos, no Acre.

Em pouco mais 12 anos de profissão, a acreana Bia Monteiro, de 38 anos, fez nome em Rio Branco como depiladora e designer de sobrancelhas. A deficiência na mão direita, ocasionada por uma má formação fetal, não a impediu de realizar nenhum de seus sonhos, nem de conquistar aos poucos a confiança de mais de 200 clientes fixas que hoje atende em seu salão.
E ela garante que o número só cresce mesmo sem o auxílio de divulgação. "A propaganda está na cara das clientes. Alguém chega e pergunta 'sua sobrancelha está linda, quem fez?' É assim que funciona, no 'boca a boca'. O importante é fazer o trabalho com amor e dedicação", afirma.

Tudo começou sem grandes pretensões com um curso de depilação no Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial do Acre (Senac). Na época, Bia trabalhava como secretária em uma escola particular da capital e começou atendendo em domicílio, até que em 2002 conseguiu montar o próprio salão de depilação.

O que era um meio de ganhar um dinheiro extra, acabou se tornando a principal fonte de renda da família da profissional, casada há sete anos e mãe de um filho de seis anos. "O que eu ganhava na escola deixava guardado no banco. Com o salão eu comprei um carro e construí minha casa. Até que eu pedi demissão e passei a me dedicar somente a isso".

Foi também por acaso que ela se tornou designer de sobrancelhas. Ela conta que foi incentivada por uma amiga que trabalhava no ramo. "No começo eu relutei. Achava que a sobrancelha era uma coisa muito pessoal. Tinha medo de errar. Mas fui observando, vendo vídeos, me atualizando e hoje muitas mulheres vêm de outros estados fazer comigo", conta.

Preconceito
Mas encontrar o caminho profissional não foi fácil. O preconceito foi o principal obstáculo enfrentado por Bia.  "Meu primeiro emprego foi em loja de roupa de uma amiga. Se ela não fosse minha conhecida, eu não conseguiria por causa da deficiência", comenta.

Ela relata que anteriormente deixou de ser admitida em uma loja de cosméticos. "A gerente veio conversar comigo dizendo que para trabalhar lá as vendedoras precisavam deixar a mão muito à mostra, com as unhas pintadas, e por isso eu não poderia. Infelizmente passei por outras situações em que ficou claro que para algumas pessoas a estética é mais importante que a competência. Isso me deixava triste. Mas nunca baixei a cabeça".
Para adquirir a habilitação de motorista em 2004, Bia diz ter passado por humilhações. Mesmo tendo feito a autoescola durante o período necessário, a então diretoria do Detran/AC se negou a dar entrada no processo.

"Me disseram que eu nem deveria ter começado, porque eu era incapaz de dirigir um carro normal. Eu fui atrás dos meus direitos na Defensoria Pública, exigi uma banca médica para me avaliar e provei que eu podia, como qualquer outra pessoa".

Na infância, Bia também teve que lidar com o bullying. Na escola, ela confessa que ia parar na diretoria pelo menos uma vez por semana. "Sempre zombavam de mim. Me chamavam de 'mãozinha', inventavam outros apelidos. E eu nunca aguentei calada. Mas não acredito que isso tenha me afetado tanto. Só acho que precisei me tornar alguém mais duro para aprender a me defender desde cedo", confessa.

Mas mesmo tendo enfrentado tantos obstáculos na vida, ela resiste em ser vista como um exemplo de superação.


"Para ser superação, é preciso haver um trauma. E eu nunca me vi como uma deficiente. Eu acho que quando Deus permite que uma pessoa nasça com um problema físico, Ele também permite que essa pessoa desenvolva outras habilidades especiais. Uma coisa compensa a outra. O importante é não se ver como coitadinho e seguir em frente", conclui.

Fonte-G1

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