'Nunca me vi como uma deficiente', diz Bia Monteiro.
Profissional também trabalha como depiladora há 10 anos,
no Acre.
Em pouco mais 12 anos de profissão, a acreana Bia
Monteiro, de 38 anos, fez nome em Rio Branco como depiladora e designer de
sobrancelhas. A deficiência na mão direita, ocasionada por uma má formação
fetal, não a impediu de realizar nenhum de seus sonhos, nem de conquistar aos
poucos a confiança de mais de 200 clientes fixas que hoje atende em seu salão.
E ela garante que o número só cresce mesmo sem o auxílio
de divulgação. "A propaganda está na cara das clientes. Alguém chega e
pergunta 'sua sobrancelha está linda, quem fez?' É assim que funciona, no 'boca
a boca'. O importante é fazer o trabalho com amor e dedicação", afirma.
Tudo começou sem grandes pretensões com um curso de
depilação no Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial do Acre (Senac). Na
época, Bia trabalhava como secretária em uma escola particular da capital e
começou atendendo em domicílio, até que em 2002 conseguiu montar o próprio
salão de depilação.
O que era um meio de ganhar um dinheiro extra, acabou se
tornando a principal fonte de renda da família da profissional, casada há sete
anos e mãe de um filho de seis anos. "O que eu ganhava na escola deixava
guardado no banco. Com o salão eu comprei um carro e construí minha casa. Até
que eu pedi demissão e passei a me dedicar somente a isso".
Foi também por acaso que ela se tornou designer de sobrancelhas.
Ela conta que foi incentivada por uma amiga que trabalhava no ramo. "No
começo eu relutei. Achava que a sobrancelha era uma coisa muito pessoal. Tinha
medo de errar. Mas fui observando, vendo vídeos, me atualizando e hoje muitas
mulheres vêm de outros estados fazer comigo", conta.
Preconceito
Mas encontrar o caminho profissional não foi fácil. O
preconceito foi o principal obstáculo enfrentado por Bia. "Meu primeiro emprego foi em loja de
roupa de uma amiga. Se ela não fosse minha conhecida, eu não conseguiria por
causa da deficiência", comenta.
Ela relata que anteriormente deixou de ser admitida em
uma loja de cosméticos. "A gerente veio conversar comigo dizendo que para
trabalhar lá as vendedoras precisavam deixar a mão muito à mostra, com as unhas
pintadas, e por isso eu não poderia. Infelizmente passei por outras situações
em que ficou claro que para algumas pessoas a estética é mais importante que a
competência. Isso me deixava triste. Mas nunca baixei a cabeça".
Para adquirir a habilitação de motorista em 2004, Bia diz
ter passado por humilhações. Mesmo tendo feito a autoescola durante o período
necessário, a então diretoria do Detran/AC se negou a dar entrada no processo.
"Me disseram que eu nem deveria ter começado, porque
eu era incapaz de dirigir um carro normal. Eu fui atrás dos meus direitos na
Defensoria Pública, exigi uma banca médica para me avaliar e provei que eu
podia, como qualquer outra pessoa".
Na infância, Bia também teve que lidar com o bullying. Na
escola, ela confessa que ia parar na diretoria pelo menos uma vez por semana.
"Sempre zombavam de mim. Me chamavam de 'mãozinha', inventavam outros
apelidos. E eu nunca aguentei calada. Mas não acredito que isso tenha me
afetado tanto. Só acho que precisei me tornar alguém mais duro para aprender a
me defender desde cedo", confessa.
Mas mesmo tendo enfrentado tantos obstáculos na vida, ela
resiste em ser vista como um exemplo de superação.
"Para ser superação, é preciso haver um trauma. E eu
nunca me vi como uma deficiente. Eu acho que quando Deus permite que uma pessoa
nasça com um problema físico, Ele também permite que essa pessoa desenvolva
outras habilidades especiais. Uma coisa compensa a outra. O importante é não se
ver como coitadinho e seguir em frente", conclui.
Fonte-G1
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