sábado, 18 de novembro de 2017

A solidão da mãe de uma criança com deficiência: "Não sou Especial!"


A jornalista e escritora Andréa Werner, 41, viu sua vida se transformar há nove anos, quando deu à luz Theo, um menino autista. Desde então, interpretou o diagnóstico como uma espécie de atestado de óbito, superou o luto, perdeu amigos, sentiu uma solidão profunda e encarou inúmeros preconceitos para inseri-lo no mundo. Em escolas regulares, viu crianças como ele serem tratadas como "autistas de estimação" Hoje, ela celebra os aprendizados ao lado do filho, mas teme deixá-lo após a morte. Leia o relato dela:


“Engravidei do Theo, meu primeiro e único filho, em 2007, dois meses depois de me casar. Eu tinha o sonho de me tornar mãe e, naturalmente, ele se tornou uma criança muito esperada por toda a família. Nossos pais estavam ansiosos pelo primeiro neto. 


A gravidez foi muito tranquila, sem nenhuma intercorrência. O Theo nasceu grandão, com 53 cm e quase 4 kg. O desenvolvimento enquanto ele era bebê foi aparentemente normal. Aos 5 meses, falou ‘papai’, aos 6, ‘mamãe’. Desinibido, começou cedo a cantar uns pedacinhos de música, gritava, batia palmas.


Primeiros sinais com 1 ano À medida que ele se aproximava do primeiro ano de vida, as coisas começaram a mudar. Theo foi perdendo as habilidades que tinha adquirido. No primeiro aniversário, não bateu palminhas durante o parabéns.Para nós, era só uma questão de personalidade forte. 

Aos dois anos, ele entrou na escolinha e as professoras notaram uma falta de interação com as outras crianças, contato visual precário e fixação por objetos em movimento. Logo,veio um pedido da escola para que fizéssemos uma avaliação com um neurologista. Foi aí que recebemos o diagnóstico: Theo é autista. 'Tem cura?' Essa foi a minha primeira reação.

É um momento de luto Senti como se meus sonhos tivessem acabado. Era como se meu filho tivesse morrido ali. A urgência imposta pelos médicos quanto ao tratamento, com a justificativa de que o cérebro da criança se desenvolve muito até os três anos. Digo que é como trocar o pneu com o carro andando. Estava sofrendo muito, mas tive que correr atrás dos melhores profissionais que pudessem ajudar meu filho.


Fonoaudiólogo, psicóloga, terapia ocupacional... O Theo já fez de tudo um pouco. Consultar um psicólogo ajuda a lidar com situações completamente desconhecidas como essa. É difícil sair de um luto sozinha. Alguém precisa te mostra a luz no fim do túnel.


Ser mãe de um autista é um processo solitário 

Assim que o diagnóstico chega, você deixa de ser uma mãe comum e se torna a ‘mãe especial’, aos olhos dos outros. Aquela que ‘tem uma força fora do normal’ e foi ‘predestinada a essa função’. As pessoas me olham com dó. Já cheguei a ouvir que ‘Deus não dá um fardo mais pesado do que se pode carregar’. É preciso parar de romantizar a maternidade de modo geral.

Muita gente, sem saber como agir, se afasta. Perdi amigos que não sabiam o que falar naquele momento difícil, e essa uma situação pela qual muitas mães passam. Se mostrar solícito e se fazer presente é tudo o que a gente precisa.

Essa sensação só se reverteu com a rede de apoio de mães de crianças autistas que se construiu ao meu redor. Por meio do blog ‘Lagarta Vira Pupa’ e das redes sociais, encontrei mulheres que, assim como eu, se sentiram diminuídas e tiveram sua autoestima completamente abalada com o isolamento. Elas se tornaram minhas melhores amigas.




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